Reflexões sobre a Sociedade Tecnológica e o Legado de Ted Kaczynski

Antes de qualquer síntese ou conclusão derivada deste texto, faço questão de deixar claro que não se trata de uma tentativa de refutar as argumentações de Ted Kaczynski. O mesmo, reconhecido como gênio pela Universidade de Harvard — instituição da qual fez parte —, é apenas o ponto de partida para uma reflexão pessoal acerca de sua obra “A sociedade industrial e seu futuro” articulada também com outras leituras sobre o tema do sistema tecnoindustrial.

Kaczynski é particularmente preciso em sua crítica ao neoconservadorismo, sobretudo ao apontar como os adeptos desse movimento (mais recorrente no Ocidente) ignoram aspectos fundamentais da sociedade, acreditando que problemas estruturais poderiam ser resolvidos pela eleição de um próximo republicano. Na realidade, tais eleições não apenas falham em solucionar as questões centrais, mas funcionam como analgésicos, reforçando os próprios problemas que afirmam combater.

Um exemplo é a questão da família. Os neoconservadores percebem as dificuldades, mas não compreendem que a raiz do enfraquecimento da instituição familiar está no crescimento geométrico do sistema técnico-industrial. Como Kaczynski ressalta, a tecnologia retirou poder dos indivíduos para transferi-lo a grandes organizações.Nenhum cidadão em sã consciência entregaria tamanho poder a pequenos grupos de indivíduos ou a ONGs e partidos políticos — mas o sistema consolidado impõe justamente isso. Assim, a repressão e a fiscalização sobre os indivíduos tornam-se cada vez mais intensas, enquanto estes, paradoxalmente, sentem-se mais “seguros” ao cederem liberdade em troca de controle.

Essa lógica cria uma dependência crescente: o que antes eram pequenas tecnologias a serviço da autonomia humana, converte-se em instrumentos usados contra o próprio indivíduo. Tal como o psicopata Lenin afirmava — e políticos e ONGs internalizaram —, “não existe vácuo de poder”: pequenos grupos e famílias passam a ser vistos apenas como espaços a serem ocupados.Nesse contexto, a família deixa de ser o núcleo moral e social mais sólido para se tornar apenas uma fonte de poder. Pais, que outrora eram líderes naturais do lar, transformam-se em meros provedores financeiros ou alívio cômico da indústria cultural. E o que fazem os neoconservadores? Concedem “direitos” que, na prática, convertem-se em privilégios judiciais, especialmente em questões de família. A tecnologia, por sua vez, amplia o alcance do “Grande Irmão” (vide Orwell, 1984), oferecendo apenas substitutos artificiais para o verdadeiro sentido da instituição familiar.

Não surpreende, portanto, que tantos indivíduos se sintam deslocados desse sistema. Apesar de desfrutarem de confortos superiores aos de reis de séculos atrás, enfrentamos o alarmante número de quase um milhão de suicídios anuais. É impossível isentar o sistema tecnoindustrial de responsabilidade, sobretudo diante da diminuição constante das relações pessoais e familiares ao longo das últimas décadas. Kaczynski expôs isso de maneira muito mais contundente em sua obra.

O ponto com o qual divirjo é sua ideia de que a tecnologia não pode ser usada sequer para resistir a essas formas de controle. Concordo que tentar combater o sistema apenas com suas próprias ferramentas de comunicação centralizadas é um erro ingênuo. Contudo, vivemos em um cenário em que já existem alternativas descentralizadas, capazes de viabilizar trocas voluntárias e seguras, como as criptografias modernas e o Bitcoin — este último praticamente impossível de ser controlado de forma absoluta pelo Estado. Assim, ao menos nos âmbitos financeiro e comunicacional, existem saídas potenciais.

Ainda assim, a crítica ao sistema é válida, sobretudo em um contexto de globalização, no qual parte da direita acredita ingenuamente que a simples restauração de modelos monárquicos ou similares resolveria os problemas aqui discutidos. A história, tanto dos países capitalistas quanto das tragédias socialistas, já demonstrou a falácia desse raciocínio.

A saída mais estratégica, ao que parece, consiste na formação de pequenos grupos familiares ou comunitários, de caráter patriarcal, com suas próprias regras e culturas — núcleos análogos a pequenos feudos que poderiam operar à margem das grandes estruturas, utilizando Bitcoin e outras tecnologias descentralizadas. Entretanto, muitos já se encontram tão dependentes do sistema que farão de tudo para preservá-lo. Esses, em sua maioria, mantêm mentalidade coletivista, inclinação esquerdista e, em última instância, uma submissão que beira a escravidão voluntária.

Autor: Cainan Nakamoto.

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